DNA ambiental envolve extração e sequenciamento genético dos rastros dos animais, que será aplicada pelo projeto Conexão Mata Atlântica
Os animais deixam seus rastros por aí, como pegadas, fezes, pedaços de pele, excreções. Sendo assim, as células contidas neste material carregam em seu interior uma informação genética. Elas atuam como códigos de barra que possibilitam a identificação de espécies. E são justamente esses dados o objeto do ‘Levantamento intensivo da biodiversidade do corredor sudeste da Mata Atlântica inferidos por sequenciamento de DNA Ambiental (eDNA)’ que será executado pelo projeto Conexão Mata Atlântica, coordenado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
DNA Ambiental
A extração e o sequenciamento de DNA Ambiental serão empregados para mapear, na água e no solo, a ocorrência atual ou pretérita de organismos no bioma Mata Atlântica. Além disso, os fragmentos de material biológico podem ser facilmente extraídos sem o isolamento direto do organismo alvo. Em seguida, são sequenciados e comparados com grandes bases de dados de códigos de barra de DNA, permitindo inferir quais espécies passaram por ali.
Objetivo do estudo
O estudo pretende melhorar o monitoramento de espécies da biota na região de intervenção do projeto, que envolve a Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, e avaliar como elas respondem às intervenções.
Processo de seleção
Hoje, as áreas de amostragem estão em processo de seleção. O levantamento será feito em propriedades selecionadas dentro do escopo de intervenção do Projeto Conexão Mata Atlântica, que envolve mais de 22 mil km2 e que fica no corredor sudeste do bioma, que abrange os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Também serão selecionadas localidades para ‘controle’ em áreas sem intervenção ou unidades de conservação próximas.
Obtenção de dados
Contudo, a previsão é de que os dados de campo sejam obtidos até outubro. já a extração de DNA das amostras de água e solo deve ser feita em novembro.
Os dados de fragmentos de sequência de eDNA serão disponibilizados no Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SIBBr). Pequenos traços de e-DNA (ATGC, 50-200 pares de bases) funcionam como códigos de barras de DNA e, quando sequenciados, permitem a identificação das espécies.
Levantamento rápido e pouco invasivo
A estimativa dos responsáveis pelo projeto é de que pouco mais de mil amostras de água e solo sejam coletadas para a filtragem do DNA ambiental. Os organismos alvo do sequenciamento serão vertebrados (peixes, aves, mamíferos e anfíbios) e invertebrados (artrópodes).
Vantagens
O estudo por meio do eDNA apresenta vantagens em relação aos inventários tradicionais, por ser mais rápido e menos invasivo. A caracterização do número e da identidade de espécies pelos métodos tradicionais demandam expedições científicas que requerem investimento de tempo e presença de pesquisadores altamente especializados no conhecimento taxonômico dos vários grupos da biota, envolvendo captura ou coleta de material, curadoria e depósito em coleções biológicas.
O mapeamento da biodiversidade por meio do sequenciamento de DNA Ambiental é uma tecnologia recente e efetiva na área de inventários biológicos. A técnica é utilizada para avaliar as atividades de regeneração de áreas. O investimento fica concentrando em reagentes para a extração e em equipamentos. Segundo os especialistas, o nível de detalhamento deste tipo de estudo é complementar aos métodos tradicionais de monitoramento da diversidade e tem boa resolução taxonômica, sendo eficaz para a avaliação rápida dos efeitos da alteração do habitat sobre a biodiversidade em regiões tropicais.
Aspectos de recuperação de ecossistemas
A partir dos dados gerados pelo estudo, devem ser investigados os aspectos de recuperação de ecossistemas, além de reconectar fragmentos florestais regenerados por meio de cálculos das métricas de diversidade, assim como de estimativas de riqueza e composição de comunidades. As informações obtidas serão correlacionadas com variáveis dos locais de amostragem e oportunamente comparadas entre localidades.
A base de dados da ocorrência de espécies será disponibilizada no SIBBr e resultará em listas para a região, que podem indicar quais espécies são invasoras, bioindicadoras ou ameaçadas e endêmicas. Todavia, as informações também auxiliarão na compreensão da existência de interações ecológicas e serviços ecossistêmicos representando informações críticas que ajudam no norteamento da implementação de políticas públicas.
Projeto Conexão Mata Atlântica
O Projeto Conexão Mata Atlântica (Recuperação de Serviços de Clima e Biodiversidade no Corredor Sudeste da Mata Atlântica Brasileira) tem o objetivo de elevar a proteção da biodiversidade e da água e combater mudanças climáticas. Para isso, promove atividades de conservação da vegetação nativa, adoção de sistemas mais produtivos e melhoramento da gestão de unidades de conservação.
Por fim, a iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em conjunto com órgãos ambientais e de pesquisa dos governos dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, conta com apoio financeiro do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) é o órgão executor dos recursos.
*Foto: Reprodução