Coronavírus híbrido foi criado em laboratório por cientistas norte-americanos
Pesquisadores norte-americanos criaram em laboratório um coronavírus SARS-CoV-2 híbrido. Ou seja, misturaram elementos da cepa original —identificada em Wuhan, na China, no final de 2019 — com elementos da variante Ômicron (BA.1). Entretanto, o experimento envolvendo o vírus da covid-19 é controverso e inúmeras críticas foram apontadas.
Coronavírus híbrido
Até o momento, o preprint — estudo que ainda deve passar por revisão de pares — sobre o coronavírus híbrido foi publicado na plataforma bioRxiv. Os testes foram coordenados por pesquisadores da Universidade de Boston (BU, em inglês), nos Estados Unidos.
Entenda o estudo
Antes de explicar o experimento de ciência dos norte-americanos, vale mencionar que a cepa original do coronavírus é considerada a mais letal desde o início da pandemia. No entanto, diferentes fatores explicam isso, como a falta de tratamentos e protocolos adequados de atendimento para pacientes da covid-19 e a inexistência de imunidade prévia, seja provocada por vacinas ou infecções anteriores. Além disso, ainda há o seu nível de patogenicidade.
Agora, a cepa Ômicron é considerada a mais transmissível, o que pode ser explicado por mutações na proteína Spike (S) da membrana viral. Em contrapartida, os casos desta infecção são considerados menos graves, ou seja, é considerada menos patogênica.
Como criaram o híbrido do vírus da covid?
No laboratório, a equipe criou um coronavírus do tipo original, com a proteína Spike da Ômicron, e testou como organismos vivos (roedores) reagiriam a esse vírus da covid quimérico. Os pesquisadores dividiram os animais em três grupos e obtiveram os seguintes resultados:
- Grupo 1: roedores infectados com a cepa original da covid. A mortalidade do vírus foi de 100%;
- Grupo 2: cobaias contaminadas com o coronavírus híbrido. A mortalidade foi de 80%;
- Grupo 3: roedores infectados com a variante Ômicron. Nenhuma morte foi relatada.
Variante Ômicron
Os cientistas defendem a importância da criação do coronavírus híbrido, já que ele possibilitou a seguinte descoberta: apesar de a proteína Spike facilitar a transmissão do vírus e o escape dos anticorpos, ela não está associada com o nível de patogenicidade da Ômicron (gravidade da doença). A hipótese inicial era de que o híbrido fosse altamente transmissível, mas nem um pouco mortal.
De acordo com os autores, a descoberta “indica que, embora o escape vacinal da Ômicron seja definido por mutações na S, os principais determinantes da patogenicidade viral residem fora da S”. Primeiramente, ainda não se sabe quais mutações provocaram variantes da covid-19 menos graves.
Polêmica
Apesar da descoberta científica, há alguns riscos quando novos vírus são desenvolvidos em laboratório, como o vazamento em potencial da criação — até hoje, esta é uma corrente defendida por alguns cientistas sobre a origem do coronavírus SARS-CoV-2. Após a divulgação do estudo, publicações chegaram a taxar o experimento como “a criação de uma cepa mortal da covid”.
Por fim, em nota, a Universidade de Boston se defendeu das acusações e informou que a pesquisa foi revisada e aprovada pelo Comitê de Biossegurança Institucional (IBC). Além disso, os estudos foram feitos em um laboratório de biossegurança de nível 3, pontua Ronald B. Corley, porta-voz da universidade, em comunicado. Ele afirma que esta foi uma declaração tirada do contexto para fins sensacionalistas.
“E deturpa totalmente não apenas as descobertas, mas [também] o objetivo do estudo.”
*Foto: Reprodução