Crise ambiental pode ter ajuda da tecnologia para conter questão preocupante
Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ou ODS), propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015 para alavancar o bem-estar do planeta até 2030, mexeram com o mercado mundial. E o resultado disso diz respeito aos 17 tópicos que tentam estimular organizações e empresas a adotarem soluções que respeitem o meio ambiente e promovam a inclusão social. Apesar de não ser uma tarefa fácil, tais iniciativas vêm pipocando entre grandes corporações mundo afora. Sendo assim, investir em tecnologia e inovação é a saída mais fácil para essas companhias.
Crise ambiental
Uma delas é a Natura. A gigante brasileira de cosméticos passou os últimos anos, desde 2016, montando um “ecossistema” de startups que testam produtos, soluções e serviços que podem ser incrementais (aperfeiçoamentos ou melhorias) ou disruptivos (quando são feitos grandes saltos em inovação). O nome do programa é Natura Startups, que já teve 5,5 mil firmas avaliadas no processo.
Com o propósito de conter a crise ambiental, a companhia já testou 149 soluções e possui 48 dessas pequenas empresas de tecnologia conectadas a diversas divisões do grupo.
Programa de logística reversa
Dentre essas iniciativas, há o programa de logística reversa por meio da startup WasteBank, que fornece uma plataforma para conectar recicladores, sucateiros, pontos de coleta e consumidores. Hoje, ela está em fase de teste nas cidades paulistas de Campinas e Sorocaba, além de aperfeiçoamento da malha logística do grupo por meio de inteligência artificial, e também de uma parceria com as startups Shipify e To Do Green, que abatem o carbono e utilizam modais elétricos, respectivamente.
De acordo com José Manuel da Silva, vice-presidente da divisão de Novos Negócios da Natura:
“Queremos ser um grande para-raios para o mercado, com soluções não óbvias.”
Porém, a tarefa exige recursos. Segundo o executivo, a Natura investiu aproximadamente R$ 260 milhões em projetos de inovação e pesquisa em 2021, algo como 2% da receita líquida do grupo. Entretanto, a expectativa é de que os resultados financeiros não aconteçam no curto prazo e que demorem a maturar.
Por outro lado, como exemplo dessa baixa expectativa ao lidar com retornos em inovação, Silva cita o caso da linha Biome, marca vegana, sem uso de plástico na embalagem e com desenvolvimento sustentável, demandas que começam a crescer entre consumidores.
Desde dezembro de 2021 no mercado, a linha passou por sete anos de desenvolvimento nos laboratórios da Natura, afirma o executivo:
“O impacto para o meio ambiente é zero, mas não tem amplitude de receita. A linha não vai dar retorno para nós antes de 2025.”
Já para Milena Fonseca, sócia da consultoria de inovação ACE Cortex, é necessário cuidado ao direcionar investimentos para que o passo não seja maior que a perna.
“Quando falamos de inovação, existe um risco alto atrelado. Se a empresa não conseguir balancear o hoje com o amanhã, há a chance de ir muito para o amanhã e pecar no hoje. E, se focar muito no hoje, a companhia pode não existir amanhã. É uma balança.”
Aprendizado
Mas, o investimento em inovação ainda não é bom. A Natura cita que, entre as startups avaliadas pelo programa, poucas acabam fechando negócio com o grupo – e nem sempre isso significa um produto no ar.
Silva explica que “a cada 100 testes que fazemos, 2 ou 3 vão dar mais ou menos certo”.
Já o executivo de Novos Negócios cita um fracasso “romântico” recente do grupo: o produto Naomm, uma plataforma digital de terapias alternativas e de autoconhecimento feminino, destinada especificamente para as revendedoras da Avon, uma das marcas comandadas pela Natura desde 2019.
O Naomm foi encerrado em agosto de 2022, mais de dois anos e meio após o lançamento.
Comitê de más notícias
Por fim, o braço de Novos Negócios da Natura vem apostando no que Silva chama de “comitê das más notícias”, criado em julho passado para que os funcionários e executivos tenham um momento “sincerão” nas reuniões: falar de soluções que deram errado.
“Estamos tentando criar uma cultura de confiança para trocar mais experiências sobre o que não funcionou sobre o que funcionou.”
*Foto: Reprodução