Ernesto Heinzelmann reflete sobre 50 anos de Brasil-China

Ernesto Heinzelmann reflete sobre 50 anos de Brasil-China

O empresário faz parte de um recorte importante no desenvolvimento industrial brasileiro e nas relações com a China

Em 15 de agosto de 1974 um novo capítulo de intercâmbio amistoso começou nas relações entre o Brasil e a China. Os maiores países em desenvolvimento dos hemisférios leste e oeste estreitavam relações comerciais e diplomáticas, que avançam até hoje estrategicamente para um futuro compartilhado.

Nesse cenário, um nome importante se destacava no início da década de 1990, Ernesto Heinzelmann, que emergia nessa época como um líder visionário. Com apenas 39 anos, ele assumiu a presidência da Embraco e guiou a empresa rumo a globalização, tendo a China um papel importante nesse desenvolvimento.

O desenvolvimento da China

Sob a liderança de Deng Xiaoping, na década de 1980 a China passou por transformações econômicas conhecidas como “Reforma e Abertura”. Essa mudança permitiu a entrada de elementos de mercado em um país socialista, aceitando o desenvolvimento de empresas privadas e zonas econômicas específicas para atrair investimento estrangeiro.

Com esse movimento, a China deixava de ser uma economia predominantemente agrícola para virar uma potência industrial.  O desenvolvimento urbano, a política de planejamento familiar e a abertura de relacionamento com o mercado exterior, mudaram as construções sociais e econômicas do país.

A globalização do país também gerou abertura para críticas e protestos, decorrentes da revolta com o modelo político que restringia a liberdade de expressão e até os direitos humanos fundamentais. Na década de 1990, a China continuava a sua expansão industrial, mas ainda com um controle político rígido.

Indústria brasileira

Na época, Ernesto Heinzelmann entendeu a possibilidade da abertura comercial chinesa e a modernização do estilo de vida dessa população, como uma oportunidade de expansão para a indústria brasileira.

“Neste ambiente de mudanças profundas na vida dos chineses, surgiu também a busca por produtos domésticos que trariam mais conforto a vida cotidiana, já amplamente utilizados no ocidente”, contou o empresário. Segundo ele, ter um refrigerador em casa e colocá-lo exposto, era naquela época um símbolo de modernidade e progresso social.

Ernesto revela ainda que, na década de 1980, os produtos da Embraco se tornaram populares na China o que levou a um volume expressivo de exportações a partir do Brasil. “Conquistamos uma excelente reputação de qualidade e confiabilidade dos produtos, que na época precisavam trabalhar sob condições ainda precárias de aplicação e com alto nível de flutuação da tensão nas redes de energia elétrica”, completou.

Desafios culturais

Com a abertura de relacionamento chegam também algumas barreiras culturais, exportar e importar produtos pedia uma atenção especial no relacionamento entre os países. Em alguns momentos, a necessidade de impor os costumes locais e reafirmar a sua cultura, pode atrapalhar o equilíbrio das relações comerciais.

A parceria Brasil-China nos últimos 50 anos também evoluiu com esses desafios e diferenças culturais. Com a maturidade e o avanço das relações, os países passaram a não impor os seus costumes e se adequaram à realidade de cada sociedade. “A maturidade e a experiência de se relacionar com outras culturas, nos ensinou a sermos mais cuidadosos, e menos ávidos em mostrar como se vivia por aqui”, conta o empresário.

Os hábitos culinários, a diferença do idioma, as ideologias políticas, os limites sociais e até costumes de higiene fazem parte dos desafios presentes nas relações internacionais. Ernesto Heinzelmann teve seu primeiro contato com a China em 1993, para avaliar a criação de uma fabricação local de compressores em Beijing.

Após um exaustivo processo de negociações, a Embraco se tornou a primeira Joint Venture industrial brasileira com controle estrangeiro a se estabelecer na China. “Em 1998 precisamos escrever uma nova Visão de Futuro porque o que era previsto para o ano 2000 já havia sido alcançado. Chegamos a ter 25% de market global, uma marca impressionante que pouquíssimas empresas no mundo já usufruíram”, relevou Ernesto Heinzelmann.

Parceria de sucesso

A história de Ernesto Heinzelmann à frente da Embraco é um recorte importante e exemplifica a importância da abertura comercial entre Brasil e China. A empresa teve sucesso no país com a fabricação de compressores, um dos componentes dos sistemas de refrigeração, mas a sua atuação foi além, apostando em mudança trabalhistas.

Não se pode dizer o mesmo dos fabricantes de eletrodomésticos, em particular norte americanos e europeus, que sofreram muito para ter uma presença importante no mercado, e alguns acabaram por deixar a China após alguns anos com enormes prejuízos acumulados. 

“Os fabricantes chineses avançaram muito em tecnologia e se tornaram competidores competentes. Além disso, aquilo que considerávamos ser um distrito industrial longe de regiões residenciais, já está também sendo questionada como local para indústrias por causa do crescimento de moradias no entorno”, disse Ernesto.

O Brasil e a China terem enxergado um no outro o poder do aprendizado e do desenvolvimento, mostra a importância da parceria que completou 50 anos em 2024. Ainda que limitações, questões políticas e culturais se coloquem entre essas economias, ultrapassar as barreiras é um ingrediente promissor no desenvolvimento econômico e social.

“Somos tão diferentes na origem, na cultura e nos costumes, no entanto, nos identificamos como seres humanos bons que foram capazes de tornar realidade um objetivo comum”, encerra Heinzelmann.

Fotos:

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