Golfinhos e baleias podem não ter mais descendentes, por mais tempo que passe, no ambiente terrestre
Segundo análises evolucionárias feitas em mamíferos aquáticos como golfinhos, orcas e baleias revelam que os animais já passaram de um ponto que não permite voltarem ao planeta Terra. Sendo assim, é praticamente impossível que seus descendentes, por mais tempo que passe, consigam viver no ambiente terrestre. Isso porque as adaptações feitas para a vida na água já ultrapassaram uma “barreira” biológica, como mostrado pelo estudo de quase 6 mil espécies mamíferas, tanto aquáticas quanto terrestres e híbridas.
Golfinhos e baleias – evolução
Os mamíferos aquáticos, como golfinhos e baleias, são o resultado de um curioso vai-e-vem evolutivo. Entre 350 milhões e 400 milhões de anos atrás, os primeiros peixes se arrastaram para fora da água, como o famoso tiktaalik, graças a membros e adaptações respiratórias que permitiam ficar fora dos rios e mares. Inicialmente desajeitados, esses vertebrados foram evoluindo até se tornarem os inteiramente adaptados tetrápodes atuais.
Tetrápodes são vertebrados com quatro membros e dedos distintos, um grupo que inclui anfíbios, mamíferos e répteis. A maioria deles ficou na terra, se adaptando perfeitamente ao ambiente. No entanto, alguns, há 250 milhões de anos, retornaram às origens aquáticas. E isso pediu novas adaptações para conseguir viver novamente no mar ou nos rios, uma vez que agora precisavam respirar por pulmões, por exemplo.
Apesar de a transição para a terra tenha ocorrido apenas uma vez, a volta para a água aconteceu em muitas ocasiões. E isso faz com que os pesquisadores se perguntassem se um novo retorno terrestre seria possível. Em caso contrário, por que? É isso que a pesquisa buscou responder.
Tarde demais para voltar atrás
Vale destacar que a ideia de que a evolução não seria reversível foi proposta pela primeira vez pelo paleontólogo belga Louis Dollo, no século XIX. Conhecida como Lei de Dollo, ela afirma que um traço complexo é perdido em uma linhagem e se passa muito, é improvável que reapareça nas gerações seguintes. Para testar a ideia em mamíferos, foram divididos milhares de espécies em quatro categorias:
- Espécies totalmente terrestres;
- Espécies com adaptações aquáticas, mas ainda com mobilidade terrestre possível;
- Espécies com locomoção terrestre limitada;
- Espécies completamente aquáticas.
Modelo montado pelos cientistas
O modelo montado pela base da ciência indicou e examinou relações evolucionárias entre as espécies com ramificações sinalizando ancestralidade comum. Ao comparar traços entre as espécies, foram calculadas as probabilidades de evoluir características específicas, montando uma variedade de adaptações entre o “totalmente terrestre” e o “completamente aquático” — e testada a irreversibilidade delas.
Além disso, foi descoberto um limite entre o semiaquático e o totalmente aquático, um limite que, depois de ultrapassado, torna as adaptações à água irreversíveis. Essas adaptações são relacionadas a múltiplas mudanças, como o aumento de massa corporal para ajudar a reter calor em ambientes mais frios, e uma dieta carnívora que ajuda a manter o metabolismo aumentado.
Por outro lado, isso torna difícil competir com espécies terrestres, segundo Bruna Farina, doutoranda brasileira da Universidade de Fribourg e autora do estudo revelou ao site Live Science.
Linha irreversível
Fim, apesar de ser possível ir do totalmente terrestre ao semiaquático em passos pequenos, há uma linha irreversível para algumas dessas adaptações. A chance de mamíferos como golfinhos e baleias voltarem à terra é praticamente 0 — basta ver como os animais, quando encalhados, não conseguem sustentar o peso do próprio corpo sem o empuxo da água. Portanto, reverter uma adaptação como essa não é apenas difícil, como pouco necessário do ponto de vista evolutivo.
*Foto: Reprodução/br.freepik.com/fotos-gratis/saltando-baleia-jubarte-majestosa-beleza-na-natureza-gerada-por-ia_47184711